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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Alagados

ALAGADOS
(palafitas de Salvador)

O porquê todos sabem...
O que fazer... talvez quem sabe...quem falou? Todos dizem...
Quem sentiu? Todos nós...
Nas faíscas de luzes que se sucedem
Ao longo do horizonte,
Um contínuo batalhar
Por entre máscaras figuradas, que balançam
Abandonadas, por entre varas
E carcaças açoitadas pelo frio e pela fome,
Amortalhando o infestado amontoado
De raquíticos corpos, que, pouco a pouco
Sobressairão durante o convívio já quase
Imunizado de microorganismos que pairam
Sobrecarregados de substratos
O tempo, palavra inútil, quase nunca
Está presente.
A alegria é algo mecanizado, presente apenas
Quando a brutal e grosseira mão,
Atinge um copo contendo o único
Dispositivo anestésico, levando-o
Ao condutor insaciável das moléstias;
Do alimento manuseado agilmente,
E, até mesmo da fumaça feita pelo único
Direito de distração.
Em cada morada, uma triste e doída
Configuração do escasso relacionamento...
Um vazio que fere, destrói, corrompe...
A ponto do mesmo, tornar-se membro
De um grupo de seres vegetantes
Que pisam sobre tábuas podres
Tais quais a estrutura,
O sistema que os faz cada vez mais inativos,
Animalizados, suspensos ao ar
Correndo o risco de caírem nas imundas,
Turvas, fétidas águas que dançam tranqüilas
Sob subvidas, que ao pesar das horas
Ocultam-se uns sobre os outros
A procura de calor... não por carência
Mas pelo próprio extinto ser,
Ou, instinto animal...