Páginas

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011


DESEJOS



O vento bate no rosto

Embaraça os meus cabelos

Refresca o meu corpo

Mas não tanto

Quanto estão embaraçados os meus sentimentos

E queimando a minha alma

Creio na liberdade

Embora não a tenha

Ou na a queira ter

Por que o meu corpo está preso

As mãos atadas

Mas a alma livre

Para sonhar e desejar

Algo que me deixa feliz

Embora também não possa ter

Queria unir as forças

Que me fizeram estar aqui

Apenas para dar um passo

Uma palavra, um beijo

Que me levasse até lá...

Lá onde sempre sonhei estar...

Estar como sempre quis ficar..

Ficar como sempre desejei, amando...

Amando você por quem sempre

Desejei encontrar.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011


SEM REI... SEM LEI



Tenho em mim

O seu corpo suado

Melado, abafado, encostado...

Sedento de amor... calor

Provocado, misturado pela força

Do prazer de fazer esquecer

Um passado, acabado, massacrado

Pelas idéias inúteis ou úteis? Nem sei...

Seu corpo torto, morto,

Sem tato, exato momento

Querendo cair da dor,

Fugir do amor...

Suas mãos de traição, pedindo

O perdão que não pode, nem deve,

Se pede ser dado...

Consagrado o poder e mistério,

De um império sem rei, sem lei voraz,

Capaz de erguer ou querer uma vida

Unida, vencida, seguida de gente

Que sente o conforto de um corpo suado, melado, abafado, encostado,

Sedento de amor...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011


REENCONTRO



Onde você estiver

Mesmo que seja distante

Serei sempre sua flor

Terei sempre um sorriso guardado

Mostrarei com água a saudade

Tocarei a mais linda canção

Pedirei o mais puro silêncio

Deixarei delirar sob o sol

Molharei de amor seu pecado

Beijarei com carinho seu desejo

Montarei no mais lindo corcel

Serei cada vez mais veloz

Abrirei cada vez mais a flor

Baterá cada vez mais o peito

Gritarei na sua agonia

Molharei de cansaço o seu corpo

Gozarei no mais bruto desejo

Tombarei na relva mais verde

Montarás sobre mim tua escrava

Morderás com desejo minha boca

Descerás como ondas do mar

Beijarás com doçura as colinas

Passarás pelo ventre ofegante

Pousarás o rosto na mata

Molharás com fúria o desejo

Entrarás na mais quente caverna

Andarás cada vez mais veloz

Gozarás o mais forte prazer

Tombarás como fera cansada

Sorriremos a mais linda saudade

E dormiremos como cobras trançadas...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011


PLÁGIO



Seria preciso um plágio
Uma cópia perfeita
Que definisse uma grandeza
Que também não conheço
Mas que acredito
Porque nem tudo é fantasia
Porque num ponto qualquer
Foi real,
Foi dito,
E, é certo o resto é criação
Autêntica,
Original,
Provavelmente calculável
Seria preciso chegar
Estar perto e acontecer
Mas falta coragem
Falta o tempo
Falta um instante
Dito nos olhos
Como no plantio da semente
Que germinou, e
Ao mesmo tempo
Está inundada
Por demais ser regada
E desperta algo novo
Diferente e comum
Latente e pacífico
Que incomoda
E ao mesmo tempo é prazer
Pede prá nascer
Mas ainda é cedo
Difícil de evoluir
Confuso e débil
Quero e não sei
Sinto mas não vou
Como chegar?
Seria preciso uma força
Um desabafo completo
Alguém que arrancasse
O que em mim brotou
E traduzisse por inteiro
Plagiando essa grandeza
Que não conheço
Que não alcanço
Mas que ilumina por dentro...

IRRESISTÍVEL



Vem com força,

Calmo e tenso,

Sofrido e feliz.

Ouve com calma,

Espera o momento,

Pressiona a verdade.

Incandescente e opaco.

Às vezes distante,

Às vezes colado.

Penso em parar,

Deixar como está... pedir arrego...

A ansiedade cresce,

Toma conta do ventre,

Dos órgãos, da garganta.

E a voz falta,

O corpo ferve e você chega

Socorre ao mesmo tempo

Em que cai uma estrela

E os desejos se confirmam,

Identificam-se...

Ardendo em fogo,

Com sede,

Com fome...

De todas as formas... principalmente feliz

Penso em você,

Penso, penso e penso.

E você está ali...

Esperando, querendo e soltando

Dizendo “vem!”

Pedindo “vai!”

E vou, e volto

Querendo e repudiando

Porque é incomparável,

Irresistível...

Seu cheiro, seu calor,

Sua forma, seu gosto.

Composição perfeita,

De uma maiusculinidade interminada

Assisto seus passos,

Paralelo aos meus passos

Prá lhe ver chegar

E, lá estarei esperando,

Vendo sua força,

Calma e tensa,

Sofrido e feliz...

Dizendo “vem!”

Pedindo “vai!”

Porque é incomparável

Porque me realizo

Porque é irresistível...

domingo, 18 de dezembro de 2011


AMANHECER



Um dia como outro qualquer

Sem magia, sem surpresas...

Sim. Há um toque de mistério

Nessa hora tão gloriosa e enfatizante

Quando as folhas dos coqueirais parecem

Estar a espera do primeiro raio de sol...

Os pássaros saltitam sobre as telhas

Em homenagem a mais um dia,

O vento permanece sonolento

Em algum canto encolhido...

...e o silêncio faz pausa para o mar

Que cantarola saudando o amanhecer...

Sai a primeira jangada valsando com as ondas

A procura de vida...

E, então ele brilha... miraculoso, resplandecente

As folhas saúdam em compasso com o vento

Que desperto estica-se sobre o espaço

Como um tapete para os raios que lentamente

Deslizam sobre as nuvens...

Os motores começam a roncar...

As buzinas começam a tocar...

As pessoas começam a gritar...

Os olhos se firmam sobre os pulsos

Marcadores de tempo...

É mais um dia de labuta...

...um dia como outro qualquer...





sábado, 10 de dezembro de 2011

Matéria sobre entrevista coletiva com pré-candidato


Texto: Maria Del Carmen B Mendez



ALA JÓVEM DA POLÍTICA PRETENDE ACABAR COM OLIGARQUIAS NA BAHIA.

Em entrevista coletiva aos alunos de jornalismo da Unime Paralela nesta terça-feira, o pré-candidato Gusmão Neto, expõe o seu projeto de intenções para a cidade de Una, sul da Bahia, convocando desta forma o espírito inovador e perscrutador dos futuros jornalistas.

A cidade de Una no sul da Bahia está situada a sessenta quilômetros de Ilhéus. Uma cidade com 1.160 km² e aproximadamente vinte e seis mil habitantes, sendo que destes, 75% são eleitores.
O município de Una é também um santuário ecológico, talvez o maior da América Latina, pela sua biodiversidade. A diversidade ambiental de Una permite a coexistência de várias espécies de animais, contendo, inclusive, espécies ameaçadas de extinsão. Dentre esses ambientes, estão a Reserva Biológica de Una (Ecoparque de Una), constituída de mata atlântica e a Reserva Particular do Patrimônio Natural Araraúna (Lençóis Belgas).
Na mata Atlântica estão presentes o mico-leão-de-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) e a preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), estes dois últimos ameaçados de extinção, e no mangue o guaxinim (Procyon cancrivorus) e o sagui (Callithrix kuhli).
Existem cerca de noventa espécies de aves, dentre elas o maçarico (Tringa sp.) e o gavião-carcará (Polyborus plancus). Na praia, o sabiá-da-praia (Mimus gilvus), única espécie endêmica da restinga,entre muitos outros.
Destaque também para quatro espécies de tartaruga-marinha ameaçadas de extinção: tartaruga de pente (Eretmochelys imbricata), verde (Chelonia mydas), cabeçuda (Caretta caretta) e olivácea (Lepidochelys olivacea).
A fauna marinha é rica em peixes, entre os quais o robalo, a tainha e a pescada - no canal e próximo da praia; o cação-martelo, o dourado, o marlin-azul, o sailfish  e o atum - na região oceânica.
Os invertebrados mais importantes são caranguejos como o guaiamum, encontrado em terreno seco, o uçá, o aratu, o siri-do-mangue e os chama-maré, no mangue; o grauçá e o siri-da-areia, na praia.
     E se não bastassem essas preciosidades ecológicas, a cidade de Una, possui a ilha de Comandatuda, paraíso turístico que atrai milhares de turístas de alto poder aquisitivo, o ano inteiro, só que isso parece não ter sido suficiente para o desenvolvimento social, urbano, educacional da população unense.

DEJAIR BIRSCHNER

Administrada pelo prefeito Dejair Birschner, em seu terceiro mandato, o município parece pertencer a uma verdadeira oligarquia. Basta se dizer que das nove secretarias, cinco são ocupadas por parentes em primeiro grau do atual prefeito, ou seja, o nepotismo parece ser totalmente liberado e impune.
O Portal da Transparência do Governo Federal atesta ter repassado para o municipio o valor de R$ 23.712.843,54, só este ano, e no entanto o que se vê na cidade é um total abandono, com hospital sem médico, sem enfermeiros; as escolas sem material e sequer carteiras compradas pelo municipio; falta de viaturas e de efetivo policial para as demandas da cidade; falta de saneamento básico, o que gerou o grande transtorno com as fortes chuvas deste anos, levando a um prejuízo agrícola incalculável, sem contar com os desmoronamenos de casas na zona urbana. Mas afinal, para onde vão os recursos da cidade? Sabe-se que o municipio tem uma receita mensal de aproximadamente quatro milhões e com uma folha de pagamento que mal chega a dois milhões. Onde está o dinheiro? Onde ele está sendo empregado?
          Também não é segredo para ninguem que o atual prefeito de Una, responde por vários processos, inclusive o de assédio sexual, corrupão de menores e estupro, contra tres crianças filhas de lavrador, que estranhamente retirou a queixa quando o Ministério Público entrou na investigação. Como o errado um dia sempre aparece, foi descoberto que o prefeito havia subornado o lavrador com a quantia de R$ 400,00 para que ele retirasse a queixa.
          Estranhamente a audiência com data prevista para dia 04 de agosto deste ano, foi adiada, mas sem justificativa. Circula na internet vídeos do prefeito desacatando policiais em uma blitz, na qual a polícia cumpria o seu papel em prol da segurança dos cidadãos, mas o prefeito vociferava dizendo que ele (o policial) prendia em um dia e ele (prefeito) soltava no outro.

GUSMÃO NETO

          De acordo com o pré-candidato Gusmão Neto, jóvem de 26 anos, os dias desta oligarquia estão sendo contados, pois se depender de seus projetos de intenções para o município e para a população unense, um novo tempo de transparência e reconstrução do municipio está a caminho.
          Gusmão afirma que antes mesmos de existir a possibilidade de sua candidatura, ele desde muito cedo, como filho da cidade, sempre participou ativamente dos movimentos sociais do município, principalmente junto à colonia dos pescadores da região.
Filho de político ativo na cidade, Gusmão Neto é hoje o presidente do PMDB no diretório regional, e diretor da força jóvem do PMDM nacional. É jornalista, sócio de uma rede de notícias chamada Teia de Notícias, na internet, mas é também diretor de uma empresa de comunicação.
         Apesar da pouca idade e de não possuir a experiência parlamentar, Gusmão transmite muita maturidade e disposição para mudar o rumo da história de sua cidade natal.
Junto aos alunos de jornalismo da Unime Paralela, se submeteu a uma série de perguntas sobre seus planos, suas idéias, suas intenções políticas para o municipio de Una.
Projetos e intenções não lhe faltam. Apoio político também parece que não, inclusive o pré-candidato afirmou seu desejo e já a negociação com o lider do PT na região para tentar uma parceria, uma coalisão. Mostrou enfaticamente um entusiasmo muito grande quanto a um projeto de levar para Una uma indústria de reciclagem que, além de tratar a questão do meio ambiente, ainda geraria um grande número de emprego para o municipio, que segundo ele, tem um número elevado de jóvens que não têm trabalho, laser, assistência social, o que tem gerando uma grande evasão desses jóvens e ainda pior, têm sido um alvo muito fácil para as drogas.
Falando em drogas, o candidato foi enfático também ao alar do abandono da cidade no que diz respeito à segurança Pública. Não há número suficiente de eletivo para cobater a violência que agora está intalada na cidade. Segundo ele, em tempos passados, se podia deixar as portas e janelas das casas abertas, mas hoje, nem fechada há segurança. Sem contar com o tráfico tomando conta da região.
Gusmão falou ainda sobre desemprego, saúde, turismo, depoluição do rio, que é fonte de renda dos moradores, entre muitos outros assuntos.
O projeto de parceria com a Universidade Federal de Santa Cruz de Cabrália, parece um excelente plano para a renovação dos ecosistemas, bem como a garantização da preservação do meio ambiente que é, em verdade, um patrimônio da humanidade.
Bastante solícito e simpático, dono de um carisma inegável, o candidato já teria garantido nesta entrevista alguns votos e provavelmente alguns cabos eleitorais.
Resta agora esperar e torcer para que tudo o quanto foi informado, que todos os projetos sejam viabilizados e que todos os resultados venham mesmo a acontecer, e não seja mais um discurso político para chegar ao poder.
Como jornalista que é, o jóvem candidato irá experimentar a sensação de deixar de ser pedra para ser vidraça.
Que os ventos soprem a favor e que mais uma oligarquia indescente seja sepultada. A Bahia merece, o Povo merece.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mal de Alzheimer

Mal de Alzheimer
Doença absolutamente cruel e silenciosa.

Vai chegando de mansinho sem que possamos identificá-la, como um ladrão vil que rouba o bem mais importante do ser humano: a identidade.

Sem identidade o nosso ente querido parece perder junto sua dignidade, seus valores, suas convicções.

É um roubo lento e quase imperceptível, pois principalmente no mundo em que vivemos hoje, nos restam muito pouco tempo para percebermos mudanças tão sutis como pequenos lapsos de memória.

Afinal, quem nunca se deparou em frente a um armário tentando lembrar o que teria ido buscar ali?

E assim, com um lapso aqui e outro ali, o nosso ente querido parece ir vagarosamente desligando seus circuitos internos, distanciando-se a cada dia da realidade, da rotina do dia a dia.

Quando nos damos conta, o nosso ente querido já foi quase que totalmente embora de nossas vidas, restando apenas ali um corpo humano que outrora tanto participou, lutou, opinou, trabalhou, amou a todos.

O pior desta triste lembrança é o sentimento de culpa que nos acomete por não termos percebido os detalhes do início dessa doença, apenas verificamos o quanto fomos intolerantes, impacientes quando o nosso ente querido teimava em não tomar banho, em esconder as coisas, em dizer que roubaram suas coisas, e, naqueles momentos achávamos que era apenas uma simples caduquice ou implicância da idade. Mas não, era esse “criminoso” invisível e silencioso que já havia chegado e se instalado sem que tivéssemos percebido.

Daí para frente, a doença é cada vez mais cruel, pois tira do paciente toda a sua autonomia, e nós, aqueles que convivem com o paciente, sofremos junto por não ter mais nada a ser feito. É como se algo misterioso chegasse e sugasse a alma do seu ente querido, deixando apenas um corpo vazio.

É necessário que tenhamos muita compreensão, muita paciência, muita dedicação e, sobretudo muito amor para convivermos com a realidade de um paciente portador do mal de Alzheimer.

Existe uma fase intermediária entre o principio da doença (que não sabemos localizar precisamente) e a fase final, que é uma fase onde o paciente muitas vezes fica bastante agressivo quando contrariado, e esse é mais um momento muito difícil, pois não acreditamos que aquela pessoa antes tão equilibrada seja capaz de atitudes tão fortes, tão violentas. Parece mesmo um pesadelo, parece que o nosso paciente está ficando louco e tentamos com toda a nossa ignorância repreendê-lo como a uma pessoa normal, e de nada adianta, pois essa viagem não tem mais volta... é só de ida.

Na fase mais agressiva da doença, o paciente já não quer se alimentar, já não consegue se locomover direito, já não consegue fazer sua própria higiene pessoal, e muitas vezes ocorre o que aconteceu com minha mãe, que tivemos de colocar uma sonda diretamente no estômago para que ela fosse alimentada.

Foram momentos terríveis no hospital quando da internação para o procedimento da gastrostomia. Tive que presenciar minha mãe em ataques extremos de loucura, tendo que ficar imobilizada na cama para que não arrancasse a sonda e sendo medicada como uma pessoa deficiente mental e agressiva... foi lamentável.

Unido a tudo isso fomos percebendo a falta de estrutura que existe por parte de médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem no trato com pacientes idosos e portadores do mal de Alzheimer. Não existe de fato o carinho pelo paciente... não existe.

Principalmente os enfermeiros e auxiliares não sabem como lidar com o paciente. Pensam que são todos iguais e tomam atitudes e têm comportamentos iguais como se todos fossem um só. Isso é inadmissível, pois dentro de nosso juízo perfeito sabemos que cada ser humano é um só embora possa haver comportamentos idênticos. Mas isso não quer dizer, por exemplo, que sempre ao chegar junto ao paciente, o enfermeiro ou auxiliar tenha que falar tão próximo ao ouvido do paciente e tão alto, supondo que todos os idosos são surdos.

Tive muitos aborrecimentos em todas as vezes que minha mãe esteve internada. Raros, muito raros são aqueles profissionais que sabem lidar com um idoso e principalmente se este for um portador do mal de Alzheimer.

Acredito muito fortemente que um passo que iria melhorar muito essa relação com o paciente, seria se os profissionais de saúde escutassem os parentes do paciente, se ouvissem atentamente e dessem a importância necessária para seus comentários, observações e queixas, Os parentes conhecem muito melhor o paciente do que os profissionais de saúde, que apenas conhecem a parte técnica. Acredito mesmo que a união da técnica com o conhecimento do paciente através do seu parente surtiria um efeito muito melhor e muito menos doloroso para todos, afinal é a nossa mãe que está sendo tratada como um número e não como um ser humano.  

Minha mãe vivia completamente dependente de nós para tudo já que não se alimentava sozinha e sim pela sonda, não se locomovia, não falava, não reclamava, não conseguia se coçar (!). Passava a maior parte do tempo deitada ou sentada no mais profundo silêncio... é muito triste pois busquei em sues olhos onde ela estava escondida e não a encontrava. Algumas raras vezes seus olhos passavam pelos meus e sentia um pequeno lampejo de alegria e de reconhecimento, mas isso não durava mais do que segundos.

Fisicamente ela estava conosco, mas, espiritualmente eu realmente não sabia por onde ela andava. Por mais que a buscasse, não a encontrava, a não ser nas minhas lembranças tão fortes de quando ela era a pessoa ativa, determinada, justiceira, forte, de caráter tão correto... e, nessas horas em que ficava ao seu lado lembrando de como ela era e o que fazia, sentia uma angustia grande por não ter aproveitado melhor enquanto ela ainda possuía sua própria identidade.

É uma doença cruel, mas é também um instrumento de lição de vida para todos que passam por ela. É apenas uma pena que saibamos tão pouco a respeito do mal de Alzheimer e que nunca estejamos preparados para enfrentá-la no seu mais discreto sintoma.

Minha grande esperança é que o estudo sobre a doença seja cada vez mais aprofundado, não só pelo aspecto da pesquisa de sua cura, como também pelo lado psicológico e humano para que as pessoas da área de saúde aprendam a lidar melhor com os pacientes e saibam levar a tranqüilidade e o conforto aos parentes de um paciente portador desta doença.


domingo, 13 de novembro de 2011

MÃE É UM SER ESTRANHO

Meu filho Luar me mandou este texto, que não é de sua autoria, mas que eu considero um lindo presente.


"Mãe é aquele ser estranho, louco, capaz de heroísmos, dramas e breguices com a mesma fúria; paga mico, escreve carta para Papai Noel, se faz passar por fadinha do dente, coelho da páscoa, cuca, pede autógrafo para artistas deploráveis assiste a programas, peças, shows horríveis, revê milhares de vezes os mesmos desenhos animados, conta as mesmas histórias centenas de vezes, vai pra Disney e A D O R A!



Mãe faz escândalo, tira satisfação com professor, berra em público, dá vexame, deixa a gente sem graça, compra briga; é espaçosa, barulhenta, tendenciosa, leoa, tiete, dona da gente. Mãe desperta extremos, ganas, irrita, enlouquece, mas... É mãe.


Mãe faz promessa, prestação, hora extra, pra que a gente tenha o que é preciso e o que sonha. Mãe surta, passa dos limites, às vezes até bate, diz coisas duras; mãe pede desculpas, mortificada... Mãe é um bicho doido, louco pela cria. Mãe é Visceral!


Mãe chora em apresentação de balé, em competição de natação, quando a filha menstrua pela primeira vez, quando dá o primeiro beijo, quando vê a filha apaixonada no casamento, no parto... Xinga todo e cada desgraçado que faz a filha sofrer, enlouquece esperando ela chegar da balada, arranca os cabelos diante da morte...Mãe é uma espécie esquisita que se alterna entre fada e bruxa com um naturalidade espantosa. É competente no item culpa e insuperável no item ternura, mas pode ser virulenta, tem um lado B às vezes C, D, E... Mãe é melosa, excessiva, obsessiva, repulsiva, comovente, histérica, mas não se é feliz sem uma. Mãe é contrato: irrevogável, vitalício instransferível!


Mãe lê pensamento, tem premonição, sonhos estranhos. Conhece cara de choro, de gripe, de medo; entra sem bater, liga de madrugada, pede favor chato, palpita e implica com amigos, namorados, escolhas. Mãe dá a roupa do corpo, tempo, dinheiro, conselho, cuidado, proteção. Mãe dá um jeito, dá nó,dá bronca, dá força. Mãe cura cólica, porre, tristeza, pânico noturno, medos. Espanta monstros, pesadelos, bactérias mosquitos, perigos. Mãe tem intuição e é messiânica: Mãe salva. Mãe guarda tesouros, conta histórias e tece lembranças. Mãe é arquivo!


Mãe exagera, exaure, extrapola. Mãe transborda, inunda, transcende. Ama, desmama desarma, denota, manda, desmanda, desanda, demanda. Rumina o passado, remói dores, dá o troco, adora uma cobrança e um perdão lacrimoso.


Mãe abriga, afaga, alisa, lambe, conhece as batidas do nosso coração, o toque dos nossos dedos, as cores do nosso olhar e ouve música quando a gente ri. Mãe tem coração de mãe!


Mãe é pedra no caminho, é rumo; é pedra no sapato, é rocha; é drama mexicano, tragédia grega e comédia italiana; é o maior dos clássicos; é colo, cadeira de balanço e divã de terapeuta... Mãe é madona-mia! É deus-me-acuda; é graças-a-deus; é mãezinha-do-céu, é mãe é minha – e – eu - mato – quando - quiser; é a que padece no paraíso enquanto nos inferniza... Mãe é absurda e inexoravelmente para sempre e é uma só: não há Mistério maior! Só cabe uma mãe na vida de uma filha... e olhe lá! Às vezes, nem cabe inteira. Mãe é imensurável!


Mãe é saudade instalada desde o instante em que descobrimos a morte.


Mãe é eterna, não morre jamais. Bicho estranho, entranha, milagre, façanha, matriz, alma, carne viva, laço de sangue, flor da pele. Mãe é mãe, e faz cada coisa..."






(Texto de Hilda Lucas)

terça-feira, 8 de novembro de 2011

DEVANEIOS MIDIÁTICOS







IDEOLOGIA e PROPAGANDA


Segundo Fiorin (9:29):
          Ideologia (...)é uma visão de mundo e há tantas visões de mundo numa dada formação social quantas forem as classes sociais (sendo que) cada uma das visões de mundo apresentam-se num discurso próprio.    Embora haja, numa formação social, tantas visões de mundo quantas forem as classes sociais, a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante.
          Para o filósofo francês Destutt de Tracy, a ideologia é uma atividade filosófico-científica que estuda a formação das idéias a partir das observações do homem no seu meio ambiente.
         Para o sociólogo francês Durkheim, a ideologia é negativa por que nasce de uma noção pré-científica e, por isso mesmo, imprópria para o estudo objetivo da realidade social.
        Para o pensador e filósofo alemão, Karl Marx, a produção das idéias não pode ser analisada separadamente das condições sociais e históricas nas quais elas surgem. Ao se referir à ideologia burguesa, Marx entende que as idéias e representações sociais predominantes numa sociedade capitalista são produtos da dominação de uma classe social (a burguesia) sobre a classe social dominada (o proletariado). Na perspectiva marxista, a ideologia é um conceito que denota "falsa consciência": uma crença mistificante que é socialmente determinada e que se presta a estabilizar a ordem social vigente em benefício das classes dominantes.
        Segundo Renato Cancian, cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais, autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: gênese e atuação política - 1972-1985", a utilização do termo “ideologia”, tem como objetivo somente descrever o conjunto de idéias, valores ou crenças que orientam a percepção e o comportamento dos indivíduos sobre diversos assuntos ou aspectos sociais, como, por exemplo, as opiniões e as preferências que os indivíduos têm sobre o sistema político vigente, a ordem pública, o governo, as leis, as condições econômicas e sociais, entre outros.
        Não é possível falar de ideologia na propaganda sem que falemos sobre a Análise de Discurso. A Análise do Discurso, de linha francesa, vem a ser uma prática em campo da lingüística e da comunicação especializado em analisar construções ideológicas, presentes em um texto. É muito utilizada para analisar textos da mídia e as ideologias que trazem em si.
        Para Orlandi (2004), no Brasil a AD foi estabelecida por três rupturas que estabelecem três campos do saber: a Linguística, a Psicanálise e o Marxismo porque se constituem da relação com a sintaxe, o enunciado e a ideologia.
       Para Pêcheux, a linguagem não pode ser entendida como um sistema significativo desunido, sem relação com o exterior, devendo ser compreendida a partir do contexto histórico-ideológico dos sujeitos que a produzem e que a interpretam.
       É necessário que também se fale sobre a persuasão, que é um procedimento que resulta de exercícios da linguagem, cujo objetivo é formar atitudes, comportamentos, idéias. Desse modo, desde que garantido o princípio democrático da circulação social do discurso, persuadir passa a ser uma instância legítima de convencimento, de afirmação de valores e de construção de consensos, segundo Citelli (2007, p. 01).
      Nesse sentido, é que persuadir também é uma estratégia de poder através da linguagem e uma maneira de garantir determinada ideologia.
      Considerando-se que ideologia segundo Chauí (2004), é um conjunto sistemático, lógico e coerente de valores, idéias, normas ou regras que "guiam" os membros da sociedade sobre o que devem pensar e fazer, que as propagandas se utilizam desses meios.
     Não se pode negar que a publicidade causa uma forte influência na formação cultural da própria sociedade. O difícil é analisar até que ponto essa influência é negativa ou positiva. Afinal, não podemos afirmar que a persuasão da propaganda é totalmente prejudicial ao indivíduo, já que muitos dos produtos utilizados promovem mudanças na vida das pessoas.
      Não podemos esquecer-nos de abordar a Visão de Mundo dos indivíduos, pois é através desta que as propagandas criam as estratégias para a composição das propagandas. Cada grupo na sociedade, pelas experiências, pelo “modus vivendi”, possui uma visão de mundo. Visão de Mundo é a perspectiva com a qual um indivíduo, uma comunidade ou uma sociedade enxergam o mundo e seus problemas em um dado momento da história, reunindo em si uma série de valores culturais e o conhecimento acumulado daquele período histórico em questão.
       Se formos aprofundar etimologicamente a palavra “propaganda”, perceberemos que ela deriva da palavra “propagar” que primeiramente foi utilizada no contexto político referindo-se geralmente aos esforços de persuasão patrocinados por governos e partidos políticos.
      É de fundamental importância falarmos, ainda que brevemente, sobre a Semiótica, ou seja, ciência geral dos signos na natureza e na cultura. A Semiótica tem como base uma relação triádica entre signo, objeto e interpretante. Um signo é, portanto um elemento de mediação entre um objeto e uma mente. Por ser uma ciência formal dos signos, naturalmente a Semiótica tem estreito vínculo com inúmeras áreas de estudo como a filosofia, a lógica, a matemática, a teoria de sistemas, a cibernética, a lingüística, a hermenêutica, a psicologia, a antropologia, a arte, etc. E por esta razão que o estudioso de qualquer área pode se valer dos estudos semióticos para entender melhor aquilo que faz, para realizar investigações com uma consciência muito mais profunda dos elementos envolvidos. A Semiótica não é um método, mas contribui de maneira fundamental para a criação de métodos de análises e a aplicação de uma dada teoria a um campo de investigação.
       As técnicas de propaganda foram cientificamente organizadas e aplicadas primeiramente pelo jornalista Walter Lippman e pelo psicólogo Edward Bernays, sobrinho de Sigmund Freud. Durante a Primeira Guerra Mundial, Lippman e Bernays foram contratados pelo presidente dos Estados Unidos para influenciar a opinião pública para entrar na guerra ao lado da Inglaterra. Bernays cunhou os termos "mente coletiva" e "consenso fabricado", conceitos importantes na prática da propaganda.
     Métodos usuais para transmitir mensagens de propaganda incluem noticiários, comunicações oficiais, revistas, comerciais, livros, folhetos, filmes de propaganda, rádio, televisão e pôsteres, que relacionem o produto/serviço oferecido quanto as suas características e benefícios. No caso da divulgação de uma idéia ou conceito o meio utilizado deve corresponder ao público-alvo da campanha e acompanhado da linha de pensamento do seu criador, a fim de instigar no público o interesse e a aderência à idéia/conceito. Com o advento da internet comercial (deste fins de 1995 no Brasil), um novo espaço ganhou forma nas mídias on-line. Inicialmente na forma de banners, depois com sites, hot-sites e recentemente com diversos recursos de mídias sociais, novos métodos tem obtido grande sucesso na transmissão de mensagens publicitárias.

         O melhor de todo esse debate e discussões é conseguir discernir as informações e os propósitos de tudo que nos alcança em termos de informações que visam sempre mudar o nosso ponto de vista, ou nos incutir algum que ainda não tenhamos.

Todo cuidado é pouco......somos sempre o alvo!!!

sábado, 5 de novembro de 2011

AGONIZA A SAÚDE DO SISTEMA DE SAÚDE NA BAHIA



Ainda não foi encontrada a cura para os obstáculos que impedem cerca de 700 cirurgias cardíacas em criança na Bahia.


(resenha de matéria do jornal A Tarde, 31/10/11)



É do conhecimento de toda a população na Bahia, e isso inclui todas as camadas sociais, as dificuldades que os pacientes têm que enfrentar quando necessitam de um atendimento médico-hospitalar, seja de pequeno, médio ou grande porte, e ainda, seja através dos convênios de saúde, rede pública ou particular. As brigas quase silenciosas travadas entre, convênios, hospitais e médicos levam o sistema de saúde a um “coma” quase irreversível. Por um lado os convênios acusam hospitais de superfaturar os materiais utilizados, por outro lado os hospitais reclamam de falta de estrutura, da falta de profissionais especializados e da não cobertura dos planos de saúde ou sistema conveniado para as intervenções necessárias, e por outro lado os médicos reclamam dos hospitais, dos convênios e de tudo, enquanto o órgão regulador ANS se perde e nada faz para resolver de fato todas as questões envolvidas.

Existe uma fila de cerca de 700 crianças que esperam a realização de cirurgias cardíacas aqui na Bahia, procedimento que se realiza através de três hospitais de referência nesta especialidade, são revelações prestadas pela 6ª Promotoria de Infância e Adolescência de Salvador, através do promotor Dr. Carlos Martel.

Os Hospitais Santa Isabel, Ana Nery e Martagão Gesteira são hospitais de referência para as cirurgias dessa especialidade e que são consideradas de alta complexidade, ou seja, de alto custo e alta tecnologia, e são hospitais que atendem principalmente o sistema público de saúde, além de planos de saúde particulares. Ainda de acordo com o promotor Martel, na Bahia existem pouco mais de 20 UTIs pediátricas, sem contar com a falta de estrutura como a falta de pessoal capacitado para esses procedimentos, além, é claro, da grande disputa que existe entre planos de saúde e hospitais por conta dos custos dos materiais utilizados nos procedimentos.

Essa peleja que existe entre Hospitais e planos de saúde não se refere apenas aos casos de cirurgias pediátricas e sim a todo e qualquer procedimento que se realize, e para comprovar esse fato basta que se verifique na fatura detalhada que um hospital envia para o plano de saúde, na qual são cobrados valores estratosféricos por materiais utilizados, inclusive as quantidades utilizadas. É cobrada pela utilização de, por exemplo, duas bolas de algodão para um pequeno curativo, o valor que seria suficiente para a compra de mais de um pacote dessas bolas de algodão e isso se dá para todo o material utilizado, sem contar com aqueles que sequer foram utilizados. Desta maneira é correto que os planos de saúde emperrem as autorizações, mas não justifica a falta do atendimento emergencial. Por outro lado os planos de saúde se sustentam em situações meramente burocráticas e administrativas ou judiciais, dificultando o atendimento ou procedimento que precisa ser realizado em seus associados que desembolsam mensalmente valores, na maioria das vezes superior à sua real condição, colocando a vida destes associados em risco, e que muitas vezes perdem suas vidas sem que o plano de saúde arque com as conseqüências materiais e emocionais da família que perdeu seu ente.

Dr. Bruno Rocha, cirurgião cardíaco pediátrico, afirma que nesta especialidade o nível de complexidade chega a ser superior aos procedimentos da realização de transplantes de órgãos, e a Bahia está 30 a 40 anos atrasada em relação ao estado de São Paulo. Para o promotor Martel o problema “é grave, gigantesco e histórico”, e por causa disso é necessário que se recorra aos TFD – Tratamento Fora do Domicílio, enviando os pacientes para São Paulo, Pernambuco e Ceará. Enquanto isso, Andrés Castro Alonso, Superintendente de Gestão dos Sistemas de Regulação de Atenção à Saúde da SESAB, se limita apenas a afirmar que se busca não somente potencializar o atendimento nas unidades públicas, mas também nas privadas e filantrópicas.

Para Carlos Emanuel Melo, Diretor-técnico do Hospital Martagão Gesteira, aumentar de cinco para doze o número de cirurgias cardíacas pediátricas por mês, ajuda, mas não resolve e por isso mesmo o Martagão lançará campanha “600 corações” visando buscar recursos junto à iniciativa privada para realizar 600 cirurgias em 24 meses, o que equivale a 25 cirurgias por mês. Também o Hospital Santa Isabel tem projeto de elevar de sete para dezoito o número de UTIs pediátricas até o final do primeiro semestre de 2012, e para isso conta com recursos próprios, embora necessite de pessoal capacitado além de estrutura de pós- operatório como aparelho de ecocardiograma, ressonância magnética, hemodinâmica etc. Hoje o Santa Isabel acompanha 300 crianças com cardiopatias, das quais 71 compõem a fila por cirurgias.
O aumento no número de casos de patologias cardíacas congênitas pode estar ligado ao aumento de partos prematuros e de gravidez na adolescência – a relação é de quatro casos para cada dez mil nascidos, afirma o promotor Martel. Esta afirmação reitera as pesquisas de que o Sistema de Saúde não cumpre o seu papel de atender, educar, assistir à população juntamente com os programas sociais voltados principalmente à população carente.
José Amando, Mestre em Direito Público pela UFBA, ressalta que os custos dos materiais utilizados em procedimentos cirúrgicos são a razão das brigas entre planos de saúde e hospitais. Segundo ele, os planos são resistentes a que hospitais façam a compra dos materiais por que os hospitais repassam o preço com até 70% de diferença entre o custo real e o custo repassado. Já Marcelo Brito, presidente da Associação dos Hospitais da Bahia, afirma que o custo dos materiais é que é absurdamente alto e que isso não é culpa dos Hospitais. Resta saber o que dizem os Laboratórios e Indústrias de materiais médico-hospitalares, mas o fato é que o paciente é quem é afetado por todo esse jogo de empurra, ainda que pague pelo Sistema Único de Saúde e muitas vezes por um plano de saúde particular.
Independente da briga, a ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar estabeleceu que a partir de 19 de dezembro, os planos terão 21 dias desde a solicitação, para autorizar procedimentos eletivos de alta complexidade. O não cumprimento acarretará em multa para os planos. Quanto ao atendimento da rede pública, a ANS nada declarou.
O interessante dessa briga financeira e política, é que nenhum deles....nenhum deles se mostra preocupado com o risco de vida dos pacientes, com direitos dos pacientes e do cidadão em geral.
O pior é constatarmos que nem com a tal “justiça” se pode contar nesta terra, pois parece que ela saiu de férias definitivas há muito tempo e ninguém sabe o seu paradeiro. Enquanto isso...bota pagode pro povo “quebrar”....

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

NATURALMENTE ALGUMAS ESPÉCIES SURGEM JUNTAS, IDÊNTICAS, INDIVIDUAIS E PODEM TER DESTINOS DIFERENTES.....OU NÃO!...

A Educação e a Religião



  Estamos vivendo em pleno século XXI e ouvimos, e lemos ao longo de toda Historia da Humanidade, seja nas colonizações, nas independências, na restauração político-social, e mais atualmente falando nas disputas de poder, que existe um vínculo muito forte, intrínseco, entre a Educação e a Religião, e que parece só ser percebida a quem de fato interessa, ou seja, os que vencem... os que dominam.

  Por que será que os mais carentes de Educação, são os mais religiosos? E quando falo de educação, não me refiro ao analfabetismo. Falo da educação que mostra um mundo maior, da educação que permite o poder de escolha, que traz o discernimento. Alguém pode dizer que essa é uma situação sócio-econômica! E eu pergunto mais uma vez, por que os mais pobres, ou de poder aquisitivo menor, são os mais religiosos e sem a educação? Entraremos num círculo vicioso.

  Olhamos para trás e percebemos que o caminhar da humanidade sempre esteve submisso aos conceitos utilitaristas de toda sorte de religiões, crenças e filosofias existenciais, onde um grupo manipulava o bem e o mal, o trunfo e o castigo, a luta e a resignação. Isso não mudou. Continuamos observando uma sociedade omissa que caminha ano após ano, eleições após eleições, utilizando-se de má fé, da fé má que subtrai da população a vontade e o poder de lutar para alcançar os horizontes, que por direito, segundo as religiões, todo ser humano tem.

  Abobalhadamente continuamos vivendo os nossos dias, acordando e dormindo (alguns dizem até que com suas consciências tranqüilas), assistindo ao descaso que os políticos e a política têm para com a Educação, mas que têm profundo interesse nessa relação religiosa-educacional, onde cada fiel deve se resignar, votar e acreditar que essa é uma vontade Divina.

  Em que serviria ao pequeno grande grupo governante, que a população de sua Região, Cidade, Estado ou País, se educasse? Certamente eles teriam que dividir, devolver, acolher, abrigar, alimentar e resgatar os pecados que passariam a reconhecer como seus. Não. Isso não consta no manual religioso desse grupo. Eles e suas famílias, parentes e amigos mais chegados, discutem a educação como quem discute a próxima copa do mundo, nem lembrando o que discutiram na copa anterior.

  Precisamos parar esse círculo vicioso da história, e começar uma nova peregrinação, um apostolado Paulino para relembrar os ensinamentos deixados (todas as religiões convergem para um mesmo ponto), onde todos têm os mesmos direitos e que nenhum doutor da lei pode suprimir essa condição de quem quer que seja.

  Que a fé seja raciocinada, mas para isso o direito básico à educação se faz necessário. Para concordar ou discordar, precisamos conhecer, e para conhecer é necessário buscar e para buscar é imprescindível a vontade, o desejo, o despertamento.

  Precisamos deixar de olhar o problema da Educação, pelo olho-mágico de nossa porta consciencial, e partir para luta pela libertação religiosa sobre os paradigmas sócio-educativas desse país. Não existe nenhuma relação co-existencial entre a educação e a religião, essa é apenas uma arma ilusionista para manter o “boi de boiada” em sua “vida de gado” conforme o cantor e compositor Zé Ramalho em sua música de nome “Admirável Gado Novo”.

  A literatura clássica é rica em descrever esse comportamento entre seus Senhores e suas criadagens, entre os governantes ou líderes e seu povo, mas a vida não deve imitar a arte, mas a arte imitar a vida com novos rumos, novas retóricas, novos discursos e reais ações.

  Aos educadores, aos políticos, empregadores, legisladores, músicos, escritores de todos os gêneros, aos seres humanos de boa vontade, levantemos os nossos olhos e observemos que, mudanças de valores podem ser difíceis a princípio, mas nada é impossível àquele que crê.

  Plantemos sementes sadias que os frutos serão perfeitos, e a colheita sendo obrigatória, nos fartaremos nessa mesa composta por um povo tão capaz quanto nós, que não nos é lícito esconder a luz dos conhecimentos, sob nenhuma mesa, e sim bem no alto para que essa luz das idéias e dos direitos à capacidade de decidir e escolher seja legítima e de todos.

  Estamos agora, também assistindo à mais nova modalidade política que levanta a bandeira das cotas nas universidades, o que com certeza é mais um paliativo ilusório, pois ao invés de se cuidar verdadeiramente da Educação, se cuida de uma outra fragilidade histórica que é a dívida para com os negros. Então essa bandeira acaba sendo uma luta racial e não dos excluídos socialmente, independente de raças e credos. E o povo, por causa da falta de educação que traz a instrução e o discernimento, ajuda a levantar essa bandeira enganosa, esquecendo que o acerto a ser feito está justamente no princípio de tudo, na iniciação escolar de qualidade, que irá lhe dar igualdade de condições de disputar vagas onde quer que seja.

  E por falar em dívida com os negros, a Ministério da Educação, de forma justa, implementou e promulgou a lei que torna obrigatório, o ensino afro-brasileiro nas escolas de nível médio e fundamental, porém, ainda se discute o que ensinar e de que forma, ou seja, venceu-se uma batalha, mas ainda não se sabe como, e o que fazer com ela. Parece-me sempre que o foco se perde nas batalhas e nas intenções, desviando-se para um viés político oportunista, onde ao que parece, a importância é a disputa política e racial, e não a social e educativa como deveria ser. E mais uma vez eu pergunto: E então como fica o resgate da dívida com os indígenas, sua cultura, seu credo, sua arte e seu espaço? Parece que agora isso já não é tão importante, pois a raça já foi praticamente dizimada e não rende votos.

  A questão é a Educação e essa prática perniciosa da utilização dos “religiosos” em manter seus fieis na total escuridão do conhecimento, do aprendizado, da certeza de que existe algo melhor a ser alcançado sempre, visando sistematicamente a manipulação indecente dessa massa humana votante e resignada. Afinal o número de votantes que não possuem educação de qualidade e são manipulados religiosamente para permanecerem nessa condição, independentemente da cor da pele, é o grande “curral eleitoral”. Vide as campanhas eleitorais e seus candidatos suplicando votos com palavras e comandos religiosos, na maior parte das vezes, tão explícitos.

  A religião é importantíssima na vida da criatura humana, como suporte existencial, como instrumento de melhoria pessoal e para com o outro, é o que impulsiona aos questionamentos, às indagações do inexplicável, à curiosidade de ir mais além do eternamente dito pelas bocas dos mesmos pobres mortais. A religião é a religação de sua alma com algo superior que intuitivamente lhe mostre caminhos e respostas, e não algo manipulável com sempre tem sido, para obter os dízimos, o “óbolo das viúvas” através de uma fé cega. De cega já basta a justiça!

  Hipocrisias a parte, “... deixemos de coisas e cuidemos da vida, pois senão chega a morte ou coisa parecida e nos arrasta moço sem ter visto a vida...”, vamos tirar definitivamente o “Véu de Isis” e encarar essa realidade social e educacional em que vivemos há tempos e que precisa ser modificada urgentemente, principalmente no que diz respeito aos métodos herméticos utilizados que não escancaram todas as possibilidades de conhecimentos a todos.