No dia 29 de março, mês
do seu aniversário de 463 anos, Salvador é presenteada com a posse da primeira transexual
na Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, mostrando mais uma vez
que a Bahia sabe dar exemplo de cidadania e inclusão social.
Primeira capital do
Brasil, fundada em 1549, Salvador possui uma diversidade histórica e cultural,
frutos da época colonial e de todas as influências de tantos povos que por aqui
passaram e deixaram suas digitais por todas as partes. Uma cidade antiga e
moderna, rica e pobre, com exuberantes paisagens, arquitetura ímpar. De
composição étnica fruto da mistura do índio, europeus e negros, com seus
costumes e tradições, são os componentes que atestam essa multiplicidade de
contrastes.
Todo esse contraste
gerou uma cultura que impactou de maneira positiva o povo baiano, que hoje,
além da fama de festeiro e acolhedor, possui um patrimônio histórico rico em
museus, teatros, igrejas. Aqui nasceu o movimento da Tropicália; o forte
movimento hippie; a semente de uma sociedade alternativa; a inspiração para
grandes transformações que podem até não ter germinado na cidade, mas aqui
nasceram e se estabeleceram em outras partes do país.
Grandes músicos,
grandes poetas, grandes escritores, grandes juristas. O baiano e mais ainda o
soteropolitano possui uma mistura de tudo o que há em diversidade, talvez por
isso tenha também esse jeito irreverente e ousado para sair na frente de
grandes atitudes e grandes projetos sociais. É o caso, por exemplo, da fundação
de primeiro grupo GGB (Grupo Gay da Bahia) por Luis Mott, que surgiu há 30 anos
na vanguarda para defender, proteger e lutar pelos seus direitos.
Hoje já com várias Associações
e Grupos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), Salvador foi
presenteada com a escolha de Paulette Furacão, que milita pela causa há 11 anos
e que pertence à Associação LGBT Laleska D’Capri, localizada no bairro de
Amaralina.
Em entrevista concedida
nesta terça-feira (3), Paulette informou que se descobriu transexual desde
muito cedo, ainda na infância. Não teve problemas com a aceitação de sua família,
mas na adolescência foi mais complicado enfrentar a escola. Passou por muitos
conflitos internos principalmente o motivado pela religião, que o fazia sentir
um “pecador ou algo abominável”. Ao iniciar sua militância em busca de mais
informações sobre os seus questionamentos de gênero, Paulette adquiriu
confiança e assumiu a sua condição de lutadora e defensora de todos aqueles que
vivem o mesmo conflito.
Através de seus
movimentos e participações ativas nas causas das discriminações, ela foi
convidada, aos quase 26 anos de idade, para assumir dentro da Secretaria de
Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, a Coordenação do Núcleo LGBT. Tem
atividades como palestras em escolas estaduais, municipais, Universidade
Católica de Salvador, entre outras. Sai em defesa do Grupo, e luta ardentemente
contra a homofobia que ainda é uma grande ferida social, fruto de preconceitos
e desconhecimento do assunto.
Desta forma, Salvador
completou 463 anos de existência e dentre as manifestações positivas ou
negativas existentes na cidade no seu mês de aniversário, a posse de Paulette
Furacão foi, socialmente e humanitariamente, o presente mais valioso, visto que
este é um presente perene e que não se acaba ao raiar de um novo dia, muito
pelo contrário, se fortalece e se instala com respeito e propriedade para
combater esse cobate cruel que é o preconceito.
“A inserção no mercado
de trabalho traz dignidade às pessoas. A gente sabe que, com emprego, as
pessoas conseguem tocar suas vidas dignamente e melhorar sua autoestima”, afirmou
Paulette.
Segundo a nova Coordenadora, “Já percebemos que o
Brasil está atrasado nas políticas públicas para o seguimento LGBT. Mas isso
vai começar a mudar. Eu quero perder rapidamente o título de única. Até hoje
nunca houve uma oportunidade para uma travesti dentro de um órgão do governo na
Bahia, principalmente para um cargo com tamanha importância.”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário