É verdade que dizem que o
mundo não dorme. O universo não dorme. A vida não dorme. Mas nós, pobres
mortais, assim como as plantas e alguns animais, dormimos, ou pelo menos,
ficamos em estado de vigília.
Amanhece o dia e lá vou eu
cuidar dos afazeres que antecedem o meu plantão do mundo em que tudo acontece;
que tudo aconteceu e que tudo está para
acontecer. Nesse meio tempo, as coisas continuam a acontecer e se preparam para
os novos acontecimentos.
A caminho do meio
jornalístico vou com o rádio ligado ouvindo o que aconteceu e o que está
previsto para acontecer. Troco de estação de rádio, ouço novas notícias,
percebo novas versões.A troca do plantão acontece de maneira mecânica e corriqueira...meio robótica, como se tudo fosse sempre a mesma coisa e da mesma maneira. Mas como pode, se o mundo não para e o universo não dorme? A planta que ontem tinha meio centímetro, hoje tem um centímetro e meio. Então as coisas mudam!
Enfim, ligo o meu computador, busco as notícias importantes, observo o que seria interessante que as pessoas soubessem, e de repente....lá está ela! Aquela notícia que alguém já descobriu, já informou, muitas pessoas já sabem, mas o nosso grupo não fez parte ainda desta confraria. Olho para trás e canto a notícia. As pessoas permanecem com seus olhos tesos na tela do computador como hipnotizados. Arrasto a cadeira, toco no braço do chefe e digo: Houve vazamento de ácido sulfúrico no Porto de Aratu! Ele me olha e diz: - Normal...sempre acontece.
Volto minha cadeira para o lugar e resolvo por conta própria investigar. Telefono para as fontes, descubro outras fontes, e acabo falando com o responsável por responder essas questões da empresa causadora do acidente. Percebo sua voz vacilante, e finalmente me pede para não divulgar o seu telefone. Olho para o colega ao lado, que é da TV, e comento o caso. Ele, com olhos brilhantes, me pede as informações e berra no meio da editoria.
Meu chefe, como que acordado de algum transe, pede para divulgar imediatamente em um boletim especial. Volto para minha tela e continuo fazendo o serviço rotineiro, até que chega o término do meu plantão. Saio, me despeço do grupo que fica, e percebo o grupo que chega...para um plantão de caça ao que aconteceu, e ao que está prestes a acontecer.
O dia passou. Mas o mundo não dorme. O universo não dorme. A vida não dorme.